Tempo!

O Café Paris fechou. E ficará fechado até que o dono volte. Ele foi ao Brasil comprar mais cachaça, jurubeba, goiabada e paçoca. Sabe como é, por aqui não se acha nada disso. E ano que vem ainda vai ter linguiça cabo-de-reio, ovo rosa, salsicha de viena (que não vem de Viena) e outras comidinhas de boteco importadas do Brasil.

O plano, agora, é importar a baixa gastronomia para Paris. E o kebab que se cuide.

Beijo e até o ano que vem.

10, Downing Street

Sei bem que o assunto deste post nada tem a ver com o propósito do blog. Mas, visto que o blog é meu, eu faço o que eu quiser 😉

Nos últimos dias o primeiro ministro britânico, Gordon Brown, fez algo que há certo tempo também quero fazer: visitar o Brasil. Coisa rápida, só um dia, mas suficiente pra dar um tapinha nas costas do Grande Molusco em Brasília, honrar as origens inglesas do futebol no Pacaembu, com o Sócrates (o irmão do Raí, não o grego) e dar uma palestra para os alunos super-sérios da FAAP.

Mas não quero falar da viagem do sujeito. O quero mostrar é outra coisa. Gordown Brown é um chefão moderno: tem Flickr e Twitter. Ele pediu para fossem abertas contas nos dois serviços para que os seus fotógrafos e jornalistas pudessem divulgar, em tempo quase-real, suas atividades cotidianas. Em ambos os serviços as contas são nomeadas 10, Downing street, endereço do gabinete. Legal, né?

Para ver as fotos do meninão da rainha com o Lula e o Sócrates, flickr.com/downingstreet. O Twitter é twitter.com/downingstreet.

Tá, tá, eu sei…

…que esse blog anda mais parado do que olho de vidro. Mas saibam que nos últimos tempos eu viajei, recebi pessoas queridas em casa, comprei livros novos, fiz aniversário, tentei realinhar meus chakras (sem sucesso, aliás; acredito que os meus estejam gastos, não emitem tanta energia quanto antes e penso em doá-los) e mais um monte de outras porcarias que, de cabelo penteado e bem comportadas, servem de história para escrever aqui.

Prometo que lá pelo fim desta semana publico dois posts de uma vez. Tá bom assim?

Le Brésil

É incrível como aqui eu me sinto mais brasileiro. Encontro meu país por toda parte. E acho bom.

Você pode se machucar bem forte

A meia-dúzia de três ou quatro que frequentam este blogue sabem que eu sou fã do metrô de Paris. Afinal, ele é o blend perfeito entre sujeira, barulho, informações baratas e pessoas. E eu me interesso bastante pelo assunto. E este post se debruçará sobre uma pequena característica desta anomalia urbana: o coelho do metrô de Paris.

Não é uma lenda urbana, nem o apelido de nenhum célebre mendigo, muito menos uma besta que se aloja nos túneis do sistema parisiense. E longe de ser a inspiração da criação de algum vibrador figurado num filme feminista. O coelho do metrô de Paris é uma personagem cor-de-rosa que surgiu em meados da década de 1970 e é um instrumento de advertência para que crianças abelhudas não coloquem as mãos nas portas do metrô enquanto as mesmas se fecham. Afinal, pior do que perder os dedos é bloquear uma linha inteira e foder com o cotidiano de alguns milhares de voyageurs.

Adesivo tradicional

Adesivo tradicional

Longe de ser um símbolo beatnik como o Mind the Gap londrino, o coelho do metrô de Paris, à primeira vista, mais parece uma releitura de um outro coelho-rosa francês, o do Quik. Portando um quimono amarelo, o antropomórfico personagem é bípide e está presente em forma de adesivo ou plaqueta em todas as linhas de metrô da cidade, acompanhado da frase “Attention! Ne mets pas sur la porte: tu risque de te faire pincer très fort” (Atenção ! Não coloque teus dedos na porta : você pode se machucar bem forte ). A questão é: por que um coelho? Por que ele é rosa? Por que essa roupa que parece um uniforme de presídio brasileiro?

Enfim, o propósito da minha postagem é apresentar algumas variações quase-pop art do leporídeo pink parisiense. Voilà!

O crédito das imagens é do benprod.bigbenprod.com.

você pode se marchucar bem forte

Não coloque tua cabeça na porta: você pode se marchucar bem forte

você pode se machucar bem forte

Não faça xixi na porta: você pode se machucar bem forte

você pode ficar preso

Não entre numa camisinha: você pode ficar preso

você pode se eletrocutar

Não faça graça com tua pilha Duracel: você pode se eletrocutar

você pode se sentir apertado

Parem de ser muitos no metro: você pode se sentir apertado

eles vão ficar tristes

Pare de trancar os outros coelhos do lado de fora: eles vão ficar tristes

Décembre, por Joseph Simon

Dezembro foi um mês bem agitado aqui em Paris. Houve uma tentativa de ataque terrorista meio frustrada numa loja chamada Printemps, discussões sobre o trabalho ilegal e o trabalho aos domingos, a visita do Sarkozy com seu belo concorde chamado Carla Bruni (aliás, tão rodada quanto um concorde) ao Rio de Janeiro, as dezenas de mendigos mortos pelo frio… Comentar isso tudo somando os meus perrengues pessoais seria uma árdua tarefa que fugiria das minhas escassas habilidades jornalísticas. Assim, resolvi convidar um colunista do Le Monde bem conhecido por aqui chamado Joseph Simon, apelidado simplesmente de Singe Simon. É uma espécie de comentarista geral, que ri e tira sarro de todo mundo, sem qualquer escrúpulo. Sou fã dele e ele gostou da idéia de escrever um resumo de dezembro para o Café Paris, com algumas referências bem brasileiras. Espero que gostem.

***

joseph_simon

BUEMBA! BUEMBA! Singe Simon Urgent! O esculhambador geral da république! Direto do país dos direitos humanos (é a piada pronta)! O sonho de qualquer esquina da Oscar Freire! Rarará!

E Paris tá bombando! Dinamite na Galerie Printemps! Essa loja é um estouro! E diz que foi um terrorista afegão que colocou a bomba no banheiro da loja Printemps. Mas aí falaram que foi uma sabotagem da Galerie Lafayette. E teve gente que disse que foi um funcionário da loja que fez cocô com dor de barriga de foie gras e champagne! Mentira! Quem deixou a bomba lá foi a Daslu! Pura inveja! Rarará! A Daslu fez complô com a José Paulino pra derrubar a Printemps com a Haussmann! É mole? É mole mas é só olhar pra Torre Eiffel que sobe!

E aqui em Paris tem um monte de mendigo morrendo. Aí eu tenho uma amiga que saiu da Fauchon na Champs Elysées e viu um medigo que lhe pediu dinheiro. Ele disse: “madame, me dá um trocado! eu não como há três dias!” E ela respondeu: “TRÊS DIAS?! Ai que inveja! Como você consegue?!” Rarará!

E diz que o Sarkozy vai passar o natal com a Carla Bruni no Rio de Janeiro! E o pai da Carla Bruni disse que mora em São Paulo! O Sarkozy foi pro Rio pra fugir do sogro! E o Sarkozy, além de corno, tem sogro paulistano, mêu! Rarará! Pior ainda: sogro que torce pro Corinthians e que vota na Marta! E o Sarkozy vai se encontrar com o Lula pra resolver a crise da indústria automobilística. Vai lançar um Peugeot versão Rio de Janeiro 2009: à prova de balas! Vai chamar Peugeot Caveron! É o Bope chique! Quero só ver depois: o uniforme do Bope vai ser do Jean Paul Gautier e o capitão Nascimento vai chamar capitão Napoléon! Rarará!

E aqui em Paris a brasileirada se vira pra fugir da crise! Eu tenho um amigo meu que trabalha num sexshop e ele diz que pra ele não tem crise: de dia ele gasta o pinto, à noite ele vende pinto! Ele come todo mundo e ainda vende pinto! E uma amiga minha que trabalha de babá diz que ganha pouco e que vive arrependida. Diagnóstico: falta de pinto! E um amigo meu não comeu ninguém ainda! Ou seja, tá sobrando pinto! Os brasileiros resolvem tudo em Paris com o pinto! Alguém sempre se fode! Rarará!

E attention! Diz que o Lula tá aprendendo francês pra fazer a revolução! Francês língua plesa! Mais um verbete para o óbvio lulante versão nouvelle vague. “Angoisse“: sentimento de companheiro que bebeu champagne demais! “Ê amigo, que m’angoisse”, hein!” O lulês é mais fácil do que francêis. Nous souffrons, mais nous gozons! Aujourd’hui demain! Que eu vou pingar meu colírio alucinógeno da Chanel! FUI!

Reabertura

Sei bem que este blog está mais parado do que olho de vidro. Mas vocês tem que entender que a atividade dele é proporcionalmente inversa à agitação da minha vida.

Isso significa que nas últimas 5 semanas em que nada escrevi para o blog estive me dedicando à outras ativiadades interessantes como acompanhar ataques terroristas na minha vizinhança, me empanturrar de foie gras no natal, festejar o ano novo no metrô, me dedicar profundamente nos estudos sobre o desaparecimento da civilização da Ilha de Páscoa, a instrumentalização dos Direitos Humanos e a Responsiblidade Social das Empresas, descreditar a culinária brasileira através de um punhado de tapiocas mal feitas, aumentar minha coleção de desculpas recebidas das francesas que se recusam à sair comigo… Enfim, o Café Paris esteve fechado pois alguém estave trabalhando. Mas enfim chegou a hora de apoiar os cotovelos no balcão.

Prometo trazer bem logo novas histórias e comentários ásperos sobre o suprassumo da essência kitsch parisiense. Tem até histórias envolvendo pias. Emocionante, não?

Aguardem.

Os modelos do metrô

Aqui eu ando muito de metrô. E eu gosto: é sujo, não cheira bem, é barulhento e cheio de gente estranha. E tais qualidades servem tanto para os trens quanto para as estações.

No meio desse monte de gente estranha e sujeira existe um tipo especial que surge da fusão dos dois elementos anteriores: os músicos de metrô. Entre sujeitos habilidosos e eternos amadores iniciantes, eles garantem a trilha sonora daquele esgoto de gente todos os dias, desde bem cedo até às primeiras horas da madrugada. São franceses, leste-europeus e asiáticos. Os latinoamericanos são poucos.

Recentemente resolvi começar a fotografá-los. Como gosto de fotografar músicos, resolvi sacar minha câmera pelo metrô e, mesmo com a evidente hostilidade dos passageiros para com a minha quase intromissão no trajeto-fudum diário de cada parisiense, disparo alguns cliques. Sempre mirando nos músicos, claro.

Entre algumas fotografias médias e um monte de decepções, o melhor resultado foi descobrir que os músicos do metrô de Paris são ótimos modelos. Famintos pelos trocadinhos, ao ver o saque de uma câmera fotográfica os suj

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eitos logo fazem mil poses, sorrisos. Alguns até rebolam e fazem poses ao meu comando. Sempre na confiança de que eu seja algum turista bobo recheado de dólares pronto para serem doados.

Enfim, comecei a me aproveitar disso. Apesar da desilução dos músicos que os deixam de cara feia bem rápido, já que descobrem que eu sou tão duro quanto eles e que meu espírito-turístico anda de mau humor, me arrisco quase diariamente em busca de boas fotografias.

Prometo que logo trarei à este entulho de insultos à cidade-luz mais fotografias musicais-subterrâneas. E, porque não, me aventurar fotograficamente entre os puteiros, sex shops e outras bocas-quentes do pedaço. Sei que existem algumas prostitutas na rue Saint-Denis que, desde o começo do fim da tarde, se colocam na labuta de oferecer coisas mais duvidosas e mal-cheirosas do que um camembert estragado. Espero fotografá-las logo.

Chers voisins,

A essência está em não convidar os vizinhos

A essência está em não convidar os vizinhos

E a cara-de-pau reina vestida de sinceridade em Paris. Não sei se é praxe, mas já vi anúncios da mesma espécie em outros prédios por aí: o lance é você avisar os vizinhos que você, em determinada noite, fará o maior escarcéu do condomínio desde a Revolução Francesa. Particularmente, acho o sistema democrático pois se algum condômino ameaçar cortar sua cabeça em razão do eventual carnaval-fora-de-época, você pode dizer o batido “mas eu avisei!”.

Embora pareça bizarro, nada nos distancia dos parisienses, já que temos a técnica, 100% nacional, de mandar um aviso com os dizeres “vou chegar atrasado, atrase-se também”, como se o problema não fosse a falta de tempo, e sim a espera.

Enfim, o aviso acima diz: “Caros vizinhos, celebraremos nosso aniversário esta noite no 5º andar. Nós nos desculpamos com antecedência pelo incômodo ocasionado. Thomas e Fabien“. A festa estava ótima: todos os convidados foram. E os não-convidados também, como eu. Dois policiais, também não-convidados, apareceram por lá. Embora o atraso, não mandaram o aviso. Inélégants!

Pas plus de tum-tum-tá

football

Semana passada fui visitar o calvário do futebol brasileiro aqui em Paris. Para os que não se lembram, o Stade de France foi onde o Ronaldo, que na época ainda era nomeado no diminutivo, teve um chilique e ficou fora da final da Copa do Mundo de 1998. E, claro, foi onde o Brasil levou um chocolate da França e acabou ficando sem o caneco daquele ano.

Más lembranças à parte, escrevo para fazer uma denúncia, já que o França e Uruguai que eu fui assistir foi tão ruim quanto um jogo-de-fim-de-ano-de-firma. Os franceses abandonaram, simplesmente, o tum-tum-tá do Queen. O tão bem lapidado refrão de We Will Rock You, universalmente conhecido e utilizado em qualquer torcida, virou démodé.

Digo isso pois os azuizinhos preferem, agora, a batucada de Seven Nation Army, do Withe Stripes. Tudo bem, a música é legal e eu também gosto. Mas a banda é muito jovem pra conduzir um estádio inteiro, 80 mil pessoas, à um ritmo que tocamos inconscientemente pra apoiar um time em campo. Pois isso não é qualquer coisa: é como pegar qualquer refrão por aí e colocá-lo no mesmo altar que o nosso olê, olê, olá.

Me perdoem pelo quasi-protesto, mas precisava desabafar. Acho que foi efeito do jogo ruim. Fiquem com o clipe e a música, que são bem melhores.


Café Paris – Porque nem tudo em Paris é bonito.

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