Aqui eu ando muito de metrô. E eu gosto: é sujo, não cheira bem, é barulhento e cheio de gente estranha. E tais qualidades servem tanto para os trens quanto para as estações.
No meio desse monte de gente estranha e sujeira existe um tipo especial que surge da fusão dos dois elementos anteriores: os músicos de metrô. Entre sujeitos habilidosos e eternos amadores iniciantes, eles garantem a trilha sonora daquele esgoto de gente todos os dias, desde bem cedo até às primeiras horas da madrugada. São franceses, leste-europeus e asiáticos. Os latinoamericanos são poucos.
Recentemente resolvi começar a fotografá-los. Como gosto de fotografar músicos, resolvi sacar minha câmera pelo metrô e, mesmo com a evidente hostilidade dos passageiros para com a minha quase intromissão no trajeto-fudum diário de cada parisiense, disparo alguns cliques. Sempre mirando nos músicos, claro.
Entre algumas fotografias médias e um monte de decepções, o melhor resultado foi descobrir que os músicos do metrô de Paris são ótimos modelos. Famintos pelos trocadinhos, ao ver o saque de uma câmera fotográfica os suj
eitos logo fazem mil poses, sorrisos. Alguns até rebolam e fazem poses ao meu comando. Sempre na confiança de que eu seja algum turista bobo recheado de dólares pronto para serem doados.
Enfim, comecei a me aproveitar disso. Apesar da desilução dos músicos que os deixam de cara feia bem rápido, já que descobrem que eu sou tão duro quanto eles e que meu espírito-turístico anda de mau humor, me arrisco quase diariamente em busca de boas fotografias.
Prometo que logo trarei à este entulho de insultos à cidade-luz mais fotografias musicais-subterrâneas. E, porque não, me aventurar fotograficamente entre os puteiros, sex shops e outras bocas-quentes do pedaço. Sei que existem algumas prostitutas na rue Saint-Denis que, desde o começo do fim da tarde, se colocam na labuta de oferecer coisas mais duvidosas e mal-cheirosas do que um camembert estragado. Espero fotografá-las logo.